quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Lideranças e entidades repudiam candidato: 'Machista'


 
Gerson de Paula (PV) disse, na segunda-feira, que 'tem mulher que pede para ser estuprada'
O assunto que dominou as conversas ontem em Franca foi a polêmica participação de Gerson de Paula na sabatina do Comércio, segunda-feira. 
 
As afirmações do publicitário, candidato a deputado federal pelo PV e presidente do partido em Franca, provocaram indignação e revolta, gerando manifestações de repúdio de três sindicatos, duas entidades e também de lideranças locais - entre elas, duas candidatas e um candidato a estadual com base eleitoral em Franca. Os concorrentes diretos de Gerson, que disputam como ele uma vaga de federal, preferiram o silêncio. 
 
Na entrevista, Gerson disse que mulheres “falam demais” e, por isso, apanham; que há mulheres que “pedem para ser estupradas”; que sapateiros “não sabem ler nem escrever” e que na Prefeitura há servidores que “cheiram mal”. Após a repercussão negativa de suas falas, já nessa terça-feira, Gerson alegou que se “expressou mal” e disse estar “arrependido”.
 
Logo no início da manhã, vereadores se manifestaram na Câmara. “O candidato foi muito infeliz e demonstrou falta de compostura”, disse Della Motta (Podemos). “Parece que deu um pitaco no THC (princípio ativo da maconha) e foi doidão (para a sabatina). Tem que fumar menos quando for dar entrevista”, ironizou Della Motta. 
 
Cristina Vitorino (PRB), única representante do sexo feminino na Câmara, disse que as mulheres “têm liberdade para fazer o que quiserem”. “Não vamos aceitar o que esses babacas ficam falando”, disse ela. Marco Garcia (PPS) classificou as palavras de Gerson como “asneiras”. Corrêa Neves Jr. (PSD), que conduz as entrevistas nas sabatinas, defendeu que os candidatos devem estar mais bem preparados quando se lançam no desafio da disputa eleitoral. “Temos que tomar muito cuidado com os discursos que promovam a divisão, o ódio e a violência.”
 
Repúdio
A Comissão de Combate à Violência Contra a Mulher da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Franca, em nota, repudiou as falas do candidato. “Seja lá qual o motivo que leva a essas diversas formas de violência contra a mulher, nenhum deles justifica atos bárbaros que ocorrem no nosso País e que endossam os índices alarmantes de violência contra a mulher.”
 
O Conselho Municipal da Condição Feminina, também em nota, apresentou dados sobre a violência contra a mulher para ilustrar sua revolta. “Em Franca, pelo menos uma mulher é agredida por dia. Repudiamos o fato de que um cidadão francano, que se coloca como candidato a um cargo tão importante, seja tão desinformado e insensível em relação às dificuldades enfrentadas diariamente pela mulher brasileira e, principalmente, francana.”
 
Revolta
A mesma revolta foi externada pelas candidatas a deputada estadual Ingrid Relvão (Rede) e Graciela Ambrósio (PR). Ingrid foi a primeira a se manifestar. Na noite de segunda, publicou vídeo na internet condenando as falas do candidato. “A violência contra a mulher é algo sério e precisa ser tratada com a importância que merece, sem achismos, machismos e preconceitos. Não podemos aceitar.” 
 
Graciela, que é delegada de polícia, classificou Gerson  como “machista, deplorável, insano, estúpido e ignorante”. “Um irresponsável aproveitando espaço importante da mídia para falar uma asneira dessas. Pessoas desequilibradas e sem discernimento como o senhor praticam delito previsto no Código Penal: apologia ao crime. E, parafraseando o que o senhor disse: cadeia para vocês!”
 
Para o deputado estadual Roberto Engler (PSB), que busca mais um mandato, não se pode tolerar colocações que dão margem para justificar qualquer violência contra a mulher. “Convicções que seguem nesse sentido reforçam valores condenáveis, além de expor, flagrantemente, a ignorância e o despreparo de quem as alimenta.”
 
‘Fiquei muito nervoso e fora de mim’
Vinte e quatro horas depois da entrevista, Gerson de Paula (PV) comentou as declarações que deu a respeito das mulheres e estupros. Por telefone, Gerson disse que está sofrendo. “Agora é o momento de segurar a onda. Estou muito arrependido de algumas declarações. Acredito que tenha escolhido errado as palavras e fiz más colocações”, disse.
 
O publicitário, que é casado há 23 anos e tem um enteado da mesma idade, disse que não tem filhas, mas “várias sobrinhas”, e que a própria família se assustou e o questionou sobre as declarações. Gerson atribuiu os “erros” na fala ao nervosismo e disse que é um “cara do bem”. 
 
“Minha família me confrontou sobre isso também. O que houve foi que fiquei muito nervoso e fora de mim, mas não quero ser rotulado como machista, porque não sou”, ressaltou.
 
A respeito da repercussão nas redes sociais e meios políticos, o publicitário e candidato a deputado disse que não tinha intenção de provocar essa revolta pelo que falou das mulheres e também dos sapateiros. “Eu não quis dizer que sapateiro é analfabeto. O caso é que eles são muito inteligentes para ficarem sentados no chão da fábrica e que, agora, Franca não é mais só calçado”, alegou Gerson, após ser questionado sobre o que quis dizer com “sapateiro não sabe ler e escrever”.
 
O diretório do PV em São Paulo também foi procurado. A secretária de assuntos do partido afirmou que falará com o candidato e, depois, terá um posicionamento acerca das medidas que deverão tomadas.

Fonte: gcn

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