Ex-diretor ligado ao PT capta R$ 650 milhões em propina em 8 anos
A força-tarefa do Ministério Público Federal avalia que já dispõe de
elementos suficientes para afirmar que a Diretoria de Serviços da Petrobras, na
gestão do ex-diretor Renato Duque - nome indicado pelo PT -, captou cerca de R$
650 milhões em propinas sobre contratos fechados de 2004 a 2012 com as seis
empreiteiras que são alvo do primeiro pacote de denúncias criminais da Operação
Lava Jato.
Segundo o executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, um dos delatores do
esquema de corrupção na estatal, às vezes o dinheiro de propinas era tão
volumoso que precisava ser transportado em carro-forte, por orientação de Duque.
O ex-diretor chegou a ser preso pela Polícia Federal, mas foi solto por liminar
do Supremo Tribunal Federal. Mendonça agia em nome da Setal Óleo e Gás,
empreiteira do cartel que negocia acordo de leniência com o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão antitruste do governo
federal.
No acordo que firmou com a Procuradoria da República, documento que
compreende 19 anexos, o executivo dedicou um capítulo inteiro a Duque e ao
"pagamento de propinas". Nesse trecho, ele se compromete a revelar "todos os
fatos relacionados aos acordos voltados à redução/supressão da competitividade,
com prévio acerto do vencedor, de preços, condições, divisão de lotes nas
licitações e contratações da Petrobras".
O acordo de colaboração é um contrato. Ao assinar o termo, em setembro, o executivo se dispôs a apontar as formas como se concretizava a entrega de propinas. Ele se compromete a devolver R$ 10 milhões a título de multa compensatória por danos causados contra a administração pública - a primeira parcela, de R$ 2,5 milhões, foi quitada em 10 de novembro. O restante será quitado em sete parcelas até 20 de julho de 2015.
Contato
Segundo Mendonça, o então diretor de Serviços "orientava três coisas" -
pagamentos em dinheiro, depósitos em contas no exterior e repasses para o PT. "O
contato com o partido era o Vaccari", diz o delator, em referência a João
Vaccari, tesoureiro do PT. Para "mascarar" os desvios de parte dos contratos,
Duque, segundo o delator, mandava fazer uso de notas frias de empresas de
fachada ligadas ao Grupo Delta.
Após longa investigação, que reuniu documentos e outros depoimentos, os
procuradores se convenceram do envolvimento direto de Duque e vão acusá-lo por
corrupção passiva, organização criminosa e outros crimes. "Os corruptores que
mantinham contratos com a estatal ofereceram e prometeram vantagens indevidas,
notadamente aos então diretores de Abastecimento e de Serviços, Paulo Roberto
Costa e Duque."
O cálculo da Lava Jato para chegar aos R$ 650 milhões destinados à diretoria
de Duque é feito a partir do montante global de propinas até aqui apurado, R$
971 milhões - valor que se quer recuperar para os cofres públicos e relativo ao
total desviado na área de Abastecimento em contratos das seis empreiteiras
citadas nas primeiras denúncias.
Cerca de R$ 270 milhões ficaram com a diretoria de Costa. O restante foi
canalizado para a diretoria de Duque, que arrecadava 2% em contratos das demais
áreas - Abastecimento (cota do PP), Internacional (do PMDB), Exploração e
Produção; e Óleo e Gás, ambas da cota petista. "O valor de quase R$ 1 bilhão
corresponde aos 3% de propina paga em função dos contratos da área de
Abastecimento", disse o procurador Deltan Dallagnol.
A Lava Jato apurou que as comissões pagas nessa área, sob controle do PP,
alcançaram 3% sobre contratos com 16 empresas do cartel - 2% teriam sido
destinados à Diretoria de Serviços, que cuida dos processos de contratação,
concorrência e fiscalização, e 1% para Abastecimento. As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo
Fonte:uol.com.br
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