GRÁVIDA DE PASSOS CONTRAI ZÍKA VÍRUS DURANTE
VIAGEM A SÃO PAULO
DO: virounoticia
Em tempos de epidemia do vírus Zika, Passos entra na lista das cidades a ter mulheres grávidas com a doença. Uma grávida com 27 semanas de gestação viajou a São Paulo e retornou a Passos, onde reside, infectada. A mulher passou por um médico particular, que informou que ela estava com o vírus. Até o momento não havia nenhum caso registrado em Passos.
O médico que atendeu a mulher informou o caso à Superintendência Regional de Saúde de Passos. Hoje de manhã, (29), ocorreu uma reunião na Diretoria Regional de Saúde para ver quais medidas serão tomadas. Apesar de ser conhecida há várias décadas, a zika foi pouco estudada. O conhecimento científico sobre suas causas e implicações está emergindo de modo vagaroso.
A mulher está tomando todos os cuidados e, felizmente, o ultrassom mostrou que o bebê não foi afetado pelo vírus e foi afastada a hipótese de microcefalia, uma consequência do vírus. De acordo com o exame, todas as medidas do crânio são normais.
A mulher foi identificada epidemiologicamente em São Paulo. “Nós iremos monitorar o caso de perto para evitar todas as formas de proteger a gestante, o bebê e a população”, disse o diretor de Saúde Coletiva, Michael Silveira Reis. O período de incubação é de 12 a 20 dias e a mulher está sendo orientada a tomar cuidados para não ser picada pelo Aedes aegypti, a fim de não se tornar uma multiplicadora. Ela foi orientada a ficar em casa, evitar o contato com o Aedes, a usar repelente e ficar longe de locais onde haja aglomeração de pessoas.
O vírus
Identificado pela primeira vez no país em abril, o vírus da zika tem provocado intensa mobilização das autoridades de saúde no país. Enquanto a doença costuma evoluir de forma benigna – com sintomas como febre, coceira e dores musculares – o que mais preocupa é a associação do vírus com outras doenças. O Ministério da Saúde já confirmou a relação do vírus zika com a microcefalia e investiga uma ligação com a síndrome de Guillain-Barré.
Assim como os vírus da dengue e do chikungunya, o vírus da zika também é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
Sintomas
Os principais sintomas da doença provocada pelo vírus da zika são febre intermitente na casa dos 38°, 39°, erupções na pele, coceira e dor muscular. "O diferencial do zika que acontece é que o paciente apresenta corrimento lacrimal, uma espécie de conjuntivite", explicou Michael.
A evolução da doença costuma ser benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente em um período de 3 até 7 dias. O quadro de zika é muito menos agressivo que o da dengue, por exemplo.
Não há vacina nem tratamento específico para a doença, os casos devem ser tratados com o uso de paracetamol ou dipirona para controle da febre e da dor.
"Pra colhermos a sorologia e obtermos o resultado posivito ou negativo pro zika o paciente deve procurar o posto de saúde mais próximo até o 3° ou 4° dia dos sintomas. Passado este períodos, é muito difícil de detectar o vírus zika no orgnismo", afirmou Michael Silveira Reis, lembrando que o resultado da sorologia sai em até 5 dias após a coleta.
Zika vírus e microcefalia: mitos e verdades
Apesar de existirem casos de zika vírus no continente africano ainda na década de 40 e, mais recentemente, na Polinésia Francesa, o Brasil foi o primeiro país a observar uma relação entre a microcefalia e a infecção, como explica a presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica, Dra. Lavínia Schüler-Faccini, em entrevista exclusiva ao site da AMB.
1) Como a epidemia chegou ao Brasil?
Acredita-se que ela tenha chegado em 2014 e foi detectada somente no segundo semestre daquele ano. As possibilidades são de que o vírus tenha entrado com torcedores estrangeiros durante a Copa do Mundo ou com uma equipe de Remo da Polinésia Francesa, que esteve em um campeonato no Brasil. A epidemia começou no Nordeste, no início de 2015. Isso explicaria porque agora vemos maior número de casos de microcefalia naquela região.
Acredita-se que ela tenha chegado em 2014 e foi detectada somente no segundo semestre daquele ano. As possibilidades são de que o vírus tenha entrado com torcedores estrangeiros durante a Copa do Mundo ou com uma equipe de Remo da Polinésia Francesa, que esteve em um campeonato no Brasil. A epidemia começou no Nordeste, no início de 2015. Isso explicaria porque agora vemos maior número de casos de microcefalia naquela região.
2) O que é a microcefalia?
A microcefalia é mais um sinal clínico do que uma doença em si, e mostra que houve uma lesão cerebral no feto que levou a cabeça dele a ficar menor. Essas lesões podem ocorrer tanto por fatores genéticos quanto ambientais, como uso de álcool e outras infecções (por exemplo, sífilis e rubéola, erradicada no Brasil). Não que não existisse microcefalia antes, mas em curto espaço de tempo os casos começaram a aparecer em um número muito maior.
A microcefalia é mais um sinal clínico do que uma doença em si, e mostra que houve uma lesão cerebral no feto que levou a cabeça dele a ficar menor. Essas lesões podem ocorrer tanto por fatores genéticos quanto ambientais, como uso de álcool e outras infecções (por exemplo, sífilis e rubéola, erradicada no Brasil). Não que não existisse microcefalia antes, mas em curto espaço de tempo os casos começaram a aparecer em um número muito maior.
3) Existem outras alterações no feto que também possam ser causadas pelo vírus?
Sim. A presença de alterações em tomografias ou ultrassonografias do cérebro, como pequenos pontos de calcificações, o que não é normal. Essas calcificações são muito características em outros tipos de infecções durante a gravidez.
Sim. A presença de alterações em tomografias ou ultrassonografias do cérebro, como pequenos pontos de calcificações, o que não é normal. Essas calcificações são muito características em outros tipos de infecções durante a gravidez.
4) Que dados a classe médica possui sobre os casos de microcefalia associada à presença do zika vírus em outros países?
Na África, não temos nenhum dado sobre má formação, pois nos países onde o vírus prevalece, como Nigéria e Uganda, a mortalidade infantil é muito alta e falta documentação básica como registro de nascimento. Mesmo no Brasil, até pouco tempo atrás, muitas crianças não eram nem registradas. Na Polinésia Francesa, que é um território dependente da França, a interrupção da gestação é legal, diferentemente do Brasil. Lá, não se observou alterações no nascimento de bebês, entretanto, nos ultrassons durante a gravidez apareceram alterações do cérebro muito parecidas com as que observamos agora. Deduzimos que a maioria dessas gestações deva ter sido interrompida.
Na África, não temos nenhum dado sobre má formação, pois nos países onde o vírus prevalece, como Nigéria e Uganda, a mortalidade infantil é muito alta e falta documentação básica como registro de nascimento. Mesmo no Brasil, até pouco tempo atrás, muitas crianças não eram nem registradas. Na Polinésia Francesa, que é um território dependente da França, a interrupção da gestação é legal, diferentemente do Brasil. Lá, não se observou alterações no nascimento de bebês, entretanto, nos ultrassons durante a gravidez apareceram alterações do cérebro muito parecidas com as que observamos agora. Deduzimos que a maioria dessas gestações deva ter sido interrompida.
5) Como é feita a declaração de nascido vivo, onde constam dados sobre má formação, no Brasil?
No Brasil temos uma declaração de nascido vivo onde consta a má formação. Podemos comparar as frequências aqui. O que observamos é que muitas vezes a declaração de nascido vivo não é preenchida com estes dados e temos um sub-registro na maioria dos Estados. Esperamos que com o alerta sobre microcefalia agora, os profissionais de saúde fiquem alertas sobre a importância de termos as estatísticas confiáveis.
No Brasil temos uma declaração de nascido vivo onde consta a má formação. Podemos comparar as frequências aqui. O que observamos é que muitas vezes a declaração de nascido vivo não é preenchida com estes dados e temos um sub-registro na maioria dos Estados. Esperamos que com o alerta sobre microcefalia agora, os profissionais de saúde fiquem alertas sobre a importância de termos as estatísticas confiáveis.
6) A presença do vírus no líquido amniótico de mulheres grávidas justifica uma mutação genética no feto que explique a microcefalia?
Não se trata de uma mutação genética, mas, sim, de uma ação direta nas células em desenvolvimento do embrião. O vírus para se dividir precisa de toda a estrutura da célula do hospedeiro, o que causa a lesão. Se esse bebê com microcefalia chegar à fase adulta e tiver filhos, o problema não será transmitido de maneira hereditária.
Não se trata de uma mutação genética, mas, sim, de uma ação direta nas células em desenvolvimento do embrião. O vírus para se dividir precisa de toda a estrutura da célula do hospedeiro, o que causa a lesão. Se esse bebê com microcefalia chegar à fase adulta e tiver filhos, o problema não será transmitido de maneira hereditária.
7) Por que a dengue e a febre chikungunya, que são transmitidas pelo mesmo mosquito, não estão associadas a nenhum problema de má formação do feto?
Ainda não sabemos por que alguns vírus causam anomalias e outros não. A dengue e a chikungunya são vírus da mesma família (flavivírus) e estão há mais tempo no Brasil, mas nunca se observou nenhuma diferença nas crianças, ao nascer, como microcefalia, por exemplo.
Ainda não sabemos por que alguns vírus causam anomalias e outros não. A dengue e a chikungunya são vírus da mesma família (flavivírus) e estão há mais tempo no Brasil, mas nunca se observou nenhuma diferença nas crianças, ao nascer, como microcefalia, por exemplo.
8) Todas as mulheres grávidas que foram infectadas pelo zika vírus tiveram bebês com microcefalia?
Não, somente uma parte das mulheres. Os dados neste curto espaço de tempo desde a detecção da epidemia de microcefalia ainda são insuficientes para sabermos a proporção entre gestantes infectadas e recém-nascidos com microcefalia.
Não, somente uma parte das mulheres. Os dados neste curto espaço de tempo desde a detecção da epidemia de microcefalia ainda são insuficientes para sabermos a proporção entre gestantes infectadas e recém-nascidos com microcefalia.
9) A gravidade das lesões causadas no feto pelo zika vírus pode variar conforme o período da gestação?
Alguns bebês nascem mais gravemente afetados e outros menos, mas isso não parece ter relação com a gravidade da doença da mãe. Algumas tiveram quadros virais muito leves e as crianças sofreram danos cerebrais graves. Percebemos que nas gestantes infectadas pelo vírus no segundo e no terceiro trimestre de gravidez os danos tendem a ser mais leves. Entretanto, não podemos dizer que não há mais risco de má formação neste período.
Alguns bebês nascem mais gravemente afetados e outros menos, mas isso não parece ter relação com a gravidade da doença da mãe. Algumas tiveram quadros virais muito leves e as crianças sofreram danos cerebrais graves. Percebemos que nas gestantes infectadas pelo vírus no segundo e no terceiro trimestre de gravidez os danos tendem a ser mais leves. Entretanto, não podemos dizer que não há mais risco de má formação neste período.
10) Há uma rede de boatos que diz que as vacinas de rubéola importadas de Cuba poderiam gerar algum tipo de má formação em bebês. Essa informação procede?
Não. O Brasil foi considerado erradicado por rubéola. Não temos casos de rubéola congênita há muitos anos. Na época da campanha de vacinação para todas as mulheres em idade reprodutiva, em 2002, acompanhamos em parceria com a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul mulheres em Porto Alegre que não sabiam que estavam grávidas quando tomaram vacina, e em mais de cem gestantes acompanhadas, nenhuma teve bebê com microcefalia ou com síndrome de rubéola fetal.
Não. O Brasil foi considerado erradicado por rubéola. Não temos casos de rubéola congênita há muitos anos. Na época da campanha de vacinação para todas as mulheres em idade reprodutiva, em 2002, acompanhamos em parceria com a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul mulheres em Porto Alegre que não sabiam que estavam grávidas quando tomaram vacina, e em mais de cem gestantes acompanhadas, nenhuma teve bebê com microcefalia ou com síndrome de rubéola fetal.
11) O vírus pode trazer problemas neurológicos para crianças ou idosos?
Não existe, até o momento, em nosso conhecimento, nenhum relato de caso de encefalite relacionado à infecção por zika vírus pós-natal. Existe um número muito pequeno de casos de complicação neurológica de Guillain-Barré, mas isso não está relacionado à idade do paciente e trata-se ainda de um número muito pequeno de casos.
Não existe, até o momento, em nosso conhecimento, nenhum relato de caso de encefalite relacionado à infecção por zika vírus pós-natal. Existe um número muito pequeno de casos de complicação neurológica de Guillain-Barré, mas isso não está relacionado à idade do paciente e trata-se ainda de um número muito pequeno de casos.
12) O que é a síndrome de Guillain-Barré?
É uma doença muito associada a infecções de uma maneira geral. Não é uma ação do vírus diretamente, mas, sim, uma reação do sistema imune do indivíduo que passa a atacar o próprio organismo, o que chamamos de auto-imunidade. É raro e acontece em qualquer idade.
É uma doença muito associada a infecções de uma maneira geral. Não é uma ação do vírus diretamente, mas, sim, uma reação do sistema imune do indivíduo que passa a atacar o próprio organismo, o que chamamos de auto-imunidade. É raro e acontece em qualquer idade.
Fonte: AMB - Associação Médica Brasileira
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