domingo, 5 de abril de 2015

‘Se Deus me pedir para perdoá-lo, a resposta é não’, diz mãe de bebê


Ângela Aparecida da Silva Santos, 23, chora durante entrevista concedida em Capetinga, horas depois de enterrar a criança


“Pai que é pai não tira vida de filho, ainda mais do meu filho que não fez nada para ele. Meu filho era inocente.” A frase é de Ângela Aparecida da Silva Santos, 23, mãe de Yan Joaquim dos Santos Silva, de um ano e cinco meses. O menino foi assassinado por enforcamento pelo próprio pai, sapateiro desempregado, Emerson Carlos da Silva, 28, na tarde da última quinta-feira, no Jardim Aeroporto III, em Franca. Após o crime, Silva se matou da mesma maneira.
 
Ângela reside em Capetinga (MG), em uma casa simples e humilde, ao lado da mãe e outros dois filhos, de 3 e 6 anos, frutos de um primeiro relacionamento. Menos de 17 horas após sepultar Yan no cemitério da cidade, ela aceitou falar sobre a tragédia que está vivendo.
 
Perdoar o ex-companheiro morto, nunca. “Se Deus me pedir para perdoá-lo, para que possa ter salvação, a minha resposta é não. Meu filho era inocente, nem sabia falar direito. Ele fez uma crueldade muito grande. Não entendo como ele pode ser tão frio. Fico imaginando a cara do meu filho quando ele fez isto. Não dá para acreditar, não dá”.
 
 
Como você recebeu a notícia? 
Eu pensei que fosse mentira. O (ex-cunhado) Wilson (irmão de Emerson Silva) ligando? Ele não liga! Até xinguei o policial. Falei que era mentira e que meu filho estava com o pai dele. Ele (policial) falou; ‘Estou aqui na casa do seu ex-sogro e seu filho está enforcado aqui com o pai dele’. Para mim acabou. Eu perdi o chão.
 
Você não acreditou?
Eu não acreditei, por que ele (Emerson) saiu daqui rindo.
 
Como vocês se conheceram?
Aqui em Capetinga. Ele veio ficar um tempo na casa de um amigo e a gente se conheceu há cerca de dois anos. Passou um tempo e eu fui conhecer a família dele. Gente boa a família, uns amores de pessoas.
 
Como era o relacionamento?
Não era aquele coisa, ‘o amor é lindo’. Sempre tinha briga, porque o ciúme dele era doentio.
 
Você sabia que ele era usuário de drogas?
Sabia desde o início. Eu aceitei morar com ele depois de jurar parar com isto. Nos dois anos que ficamos juntos, ele não fez uso de drogas.
 
Por que vocês se separaram?
Ele me sufocava com o ciúme doentio dele. Não podia nem ir na casa da minha mãe, mesmo morando a poucos metros.
 
Em uma noite de dezembro do ano passado, após briga, você foi para a casa da sua mãe. O que aconteceu?
Ele vendeu tudo o que tínhamos, tudo o que era meu. Depois saiu falando de mim, da minha mãe. A vida dele passou a ser xingar minha mãe, fazer ela passar mal, me ameaçar. Ele “pintava” aqui na porta de casa.
 
Ele demonstrava amor pelo filho?
Muito. Ele era doente pelo filho. Quando o Yan nasceu com problema no coração, ele chegou a dormir na rua, em frente a um hospital de Passos, para ficar perto do filho. Ele chorava por causa do Yan. 
 
O Yan gostava do pai?
Amava. Ele escutava o telefone tocar e já achava que era o pai.
 
Seu ex-marido chegou a falar que cometeria algo assim?
Nunca falou que iria fazer isto com o Yan. Ele sempre me ameaçou dizendo que se não voltasse para ele, ia dar um jeito na vida dele e acabar com a minha vida. Mas nunca disse que iria fazer isto com o Yan. As ameaças acabaram há cerca de um mês. Ele mudou, eu percebi e perguntei o que teria ocorrido. Ele falou que estava indo à igreja do meu irmão. Continua mesmo, eu disse. Lembrava que era para ele dar exemplo ao Yan. Eu não gostava das nossas brigas, por que o Yan poderia crescer revoltado e não era isto que eu queria para o nosso filho. Falei para ele ser um homem de atitude. Ele respondeu que iria dar o melhor de si, para me provar que mudou.
 
Como foi o último encontro de vocês?
Ele saiu daqui de casa brincando, rindo, falando que me amava. E eu brincando com ele numa boa. Eu pedi para ele cuidar do nosso filho e qualquer coisa me ligar. Ele voltou a falar que me amava e que não havia motivos para preocupações, por que ele iria cuidar do Yan.
 
O Yan saiu daqui tranquilo?
Ele não queria ir. Começou a chamar minha mãe. Ele nunca fez isso. Quando o pai chegava, ele ia para seus braços e não queria vir comigo. Desta vez, não. Ele começou a chorar. Eu falei ‘filho, você tem que ir, por que fui obrigada pela Justiça (deixá-lo ficar com o pai nos finais de semana). Minha mãe pediu para que eu não deixasse ele ir. Eu respondi: ‘Mãe como faço? Estou seguindo a lei’. Para mim, ele não queria ir. Ele nunca chorou para ir com o pai. Todas as vezes ficava feliz, sorrindo. Nem dava tchau. Desta vez, ele não queria ir.
 
Por qual motivo?
Eu tenho certeza que ele pressentiu algo de ruim. Ele não queria ir de jeito nenhum. Na hora de tomar benção da minha mãe, ele abraçou ela. O Yan não era de ficar abraçando ou beijando. Naquele dia (quinta-feira, 2) ele estava carinhoso, choroso e infeliz (Ângela chora muito). Não dá nem pra acreditar como um pai pode enrolar um fio no pescoço de uma criança de um ano. Não dá para acreditar. O amor que ele sentia deveria ser falso. Pelo tanto que o Yan amava o pai, ele não tinha direito de fazer isto. Ele viu o tanto que sofremos para ter o nosso filho e ele faz uma coisa desta. Nunca vou perdoá-lo.


Fonte: gcn.net.br

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