Empresário preso por engano é abandonado em Ribeirão Preto
Foto: Angelo Pedigone / Comércio da Franca
O empresário de 39 anos decidiu procurar um advogado e está processando a União pelo erro
O dia 19 de agosto de 2014 não sairá tão cedo da memória do empresário GSG, de 39 anos, morador do Jardim Paulistano. Eram perto das 10 horas, quando seu celular tocou. Do outro lado da linha, um policial federal dizia ter um mandado de prisão contra ele. Sem saber de qual crime era acusado, GSG foi levado para Ribeirão Preto. Ficou preso na
Delegacia da Polícia Federal e só voltou à Franca no início da noite daquela terça-feira com a ajuda de um desconhecido. Hoje ele processa o Governo Federal e pede indenização pela humilhação sofrida.
Segundo o advogado Tiago Carrera, que cuida do caso, o empresário foi preso por conta de um erro de digitação. “Em Ribeirão Preto, o delegado viu que haviam preso o homem errado. Ao fazer a verificação dos dados, percebeu a troca de dois números no CPF”, disse. Como os mandados de prisão são emitidos com base no número do documento, em vez do nome do verdadeiro acusado, saiu o nome de GSG. “O servidor digitou 62 em vez de 36”, completou Carrera.
O empresário conta que levou um susto quando recebeu a ligação do policial federal. “Estava em uma lotérica perto de casa e da escola do meu filho. O policial disse que estava me esperando na casa da minha avó, que é bem perto. Como nunca fiz nada errado, fui até lá.”
Ao chegar, o empresário viu duas viaturas à sua espera e muita movimentação na rua. “Parecia que eu era um bandido perigoso. Eles estavam com as armas em punho”, contou.
Segundo ele, os policiais disseram que tinham um mandado de prisão e que deveriam levar o empresário para prestar depoimento em Ribeirão. “Eu estava tão nervoso. Acabei saindo sem dinheiro nenhum. Tentei argumentar, mas não me deram ouvidos. Depois de rodarem pela cidade, acabaram me levando para Ribeirão.”
Na delegacia, GSG esperou cerca de uma hora até ser levado para a sala do delegado. “Eu mal comecei a falar e o doutor já percebeu que eu não era o homem que ele procurava. Ficou nervoso. Falou com alguns funcionários e depois voltou para me dizer que a minha prisão estava errada”, disse o empresário.
Segundo o francano, o próprio delegado teria admitido o erro. “Ele me explicou que algum funcionário devia ter errado na hora de digitar o número do CPF. O homem que eles procuravam era acusado de fraude e tinha um nome muito diferente do meu.”
O empresário contou que na hora sentiu como se tirassem um peso de suas costas. “Me senti aliviado. O delegado disse: ‘Você está livre. Pode ir’. Mas aí me lembrei que não tinha dinheiro para voltar para Franca. Nem andar por Ribeirão eu sabia.”
Sem recursos, o empresário pediu ajuda ao delegado. “Ele falou que era para os investigadores me levarem de volta e pagarem meu almoço. Ele ainda me deu R$ 10. Mas eles não cumpriram a ordem. Disseram para me virar. Fiquei esperando horas na recepção.” Cansado, o empresário decidiu pedir ajuda. “Comecei a mendigar mesmo. Para todo mundo que chegava, eu pedia dinheiro para voltar para casa.”
A sorte de GSG foi que um dos homens que estavam na delegacia era francano e ouviu a história contada pelo empresário. “Ele decidiu me ajudar. Me deu carona e me trouxe para Franca. Nunca me senti tão grato.” GSG chegou à cidade no início da noite.
O empresário diz que não esquecerá as humilhações que sofreu naquele dia. “Eu sou um trabalhador. Nunca tive problemas com a Justiça. Fui algemado, preso e conduzido até Ribeirão como se fosse um bandido. Todo mundo me viu no carro da Polícia Federal. Até hoje me olham com desconfiança. Ninguém acredita que foi engano.”
O empresário conta que um dos momentos mais dolorosos foi ver a avó de 84 anos chorando. “Ela assistiu a toda a cena e ficou desesperada. Eles me levaram, mas não tiveram a decência de me trazer de volta. Me abandonaram”, revolta-se.
Indenização
Por conta de todos os transtornos, o empresário decidiu procurar um advogado e está processando a União. “Fiquei pensando se devia ou não entrar com o processo, e vi que não foi justo o que fizeram comigo. Ninguém merece passar pelo que passei.”
A ação foi proposta na semana passada na Justiça Federal. Pelos transtornos, o advogado Tiago Carrera está pedido 24 salários mínimos como indenização ao empresário. “Nenhum dinheiro no mundo paga o que passei, mas servirá de lição para que isso não volte a acontecer”, disse GSG. O caso ainda não foi julgado.
Fonte: gcn.net.br
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