Irmão viu família ser carbonizada em acidente na tarde de domingo
Do gcn.net.br Foto: Angelo Pedigone/Comércio da Franca
“Foi a cena mais triste que já vi. Vai ficar gravada na minha mente para o resto da minha vida.” A frase é de Ananias Alves Ferreira. Ele foi uma das primeiras pessoas a chegar no local do acidente que, na tarde de domingo, matou seu irmão Gabriel Otávio Ferreira, 48, sua cunhada Cleusa de Souza Ferreira, 49, e suas sobrinhas, Beatriz e Bruna de Souza Ferreira, de 15 e 12 anos, respectivamente. A família morava no Jardim Aeroporto.
Ananias voltava da casa dos pais em Piumhi (MG), onde havia ido visitar o pai Otávio Ferreira, 90, que está internado em hospital de Capitólio (MG). Era justamente o que Gabriel e a família pretendiam fazer no domingo de Carnaval, quando foram brutalmente interrompidos. Por volta das 16h30, o carro em que viajavam bateu de frente com um Palio, na rodovia MG-444, que liga Franca a Cássia (MG). Na colisão, os veículos pegaram fogo. Gabriel, a mulher e suas duas filhas morreram carbonizados. O motorista do Palio também morreu na hora.
Ananias não sabia que o irmão também iria visitar o pai. Gabriel havia ligado para a mãe Maria Ferreira. “Ela tinha pedido a ele que não viajasse. Eu não sabia que ele estava indo pra lá.”
No caminho de volta a Franca, Ananias enfrentou congestionamento. “Fiquei parado meia hora na estrada de Capitólio, porque estavam recapeando. Para mim, foi coisa de Deus. Se não fosse essa parada, eu não teria visto o acidente e meu irmão.”
Ananias conta que viu uma confusão, perto do km 10 da rodovia. “Eu vi que havia fogo e muita fumaça, mas nunca imaginei que fosse meu irmão. Só fui perceber quando, ao passar devagar pelos carros e tentar estacionar para ajudar, vi as rodas do Voyage do Gabriel. Me desesperei.”
Segundo ele, no momento, chovia muito e a visão dos motoristas era muito prejudicada. “Eu me aproximei. Vi o corpo do meu irmão e da minha cunhada na frente e as meninas atrás pegando fogo. Ouvi gritos. Tentei fazer alguma coisa, mas o fogo era muito alto. Não tinha como ajudar. Eu quis salvar as meninas, mas não dava para chegar no carro por causa do fogo. Fui pedir socorro.”
Ele não soube dizer quanto tempo passou gritando à beira da pista até que algum motorista parasse. “Eu vi a cabeça das duas meninas queimando e não tinha mais o que eu pudesse fazer, além de gritar. Eu estava sozinho. Ninguém parava para me ajudar. Chovia muito.”
Ananias conta que rezava para que a força da chuva que caía pudesse apagar o fogo. “Eu olhava aquele chuvão, mas ele não apagava nada. Desesperado, liguei para o meu filho em Franca poder ajudar. Quando ele chegou, não tinha mais nada que a gente pudesse fazer. Todos já estavam mortos.”
Antes que Antônio Marcos Ferreira, filho de Ananias, chegasse ao local do acidente, um caminhoneiro e alguns motoristas já haviam parado para ajudar. A polícia chegou minutos depois. O fogo foi controlado. “Cheguei ao local e vi os corpos todos deformados dentro do carro. Vi o corpo do meu tio sem cabeça. Vi a fumaça saindo da cabeça das minhas primas e da minha tia. Foi desesperador”, disse Antônio Marcos.
Ananias disse que, desde a tarde de domingo, ainda não conseguiu dormir. “Aquela cena não me sai da cabeça. Não consigo dormir. Parece que foi um pesadelo. Mas não foi.”
Ele e o filho agora tentam se apegar à fé para conviver com o drama que enfrentaram. “Eu sei que é só Deus que pode me dar conforto.”
Fonte: gcn.net.br
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