A cada 1h, duas mulheres sofrem algum tipo de violência no Sul de MG
Relatório aponta que 46,43% dos casos em 2016 foram de violência física. Nos três primeiros meses de 2017, seis mulheres morreram na região.
Um estudo sobre violência doméstica e familiar, divulgado esta semana pela Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais, aponta que, a cada 1h, duas mulheres sofreram algum tipo de violência em 2016 no Sul de Minas. A média vem se mantendo nos últimos dois anos, mesmo com um leve aumento nos números absolutos em relação a 2015 e uma pequena redução no comparativo com 2014. O documento ainda mostra que 46,43% dos casos correspondem a violência física e que ao menos duas mulheres foram mortas por mês no último ano na região.
O "Diagnóstico da violência doméstica e familiar em Minas Gerais" analisou registros feitos nos 853 municípios do estado pela Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros nos anos de 2014, 2015 e 2016. A natureza dos crimes contra a mulher foi dividida em seis categorias: física (que envolve agressão, lesão corporal, homicídio e tortura), psicológica (como abandono, maus-tratos e ameaça), sexual (considerando não apenas o estupro, mas o assédio e qualquer manifestação que agrida a intimidade da vítima), patrimonial (extorsão, dano, roubo, estelionato), moral (calúnia, injúria e difamação) e casos em que a violência sofrida não foi tipificada.
Por se basearem em boletins de ocorrência, os dados possivelmente estão aquém da realidade enfrentada pelas mulheres no Estado, conforme indica a Secretaria de Segurança Pública, mas são uma referência para as políticas públicas nos municípios. O relatório traça um perfil de vítimas e agressores. Elas estão em todos os grupos étnicos e sociais e 73% das agredidas têm entre 18 e 44 anos. Eles são, em sua maioria, companheiros e maridos (38% das denúncias) ou ex-companheiros (o que corresponde a 31% dos casos).
Entre as menos violentas de MG
Embora o Sul de Minas não esteja entre as regiões consideradas mais violentas para as mulheres viverem no Estado (o ranking é liderado pelas regionais de Belo Horizonte, Juiz de Fora e Contagem), a segurança feminina é uma preocupação cada vez maior. Apenas nos primeiros três meses de 2017, pelo menos seis mulheres morreram vítimas de violência. Os principais suspeitos, companheiros ou ex-companheiros.
Embora o Sul de Minas não esteja entre as regiões consideradas mais violentas para as mulheres viverem no Estado (o ranking é liderado pelas regionais de Belo Horizonte, Juiz de Fora e Contagem), a segurança feminina é uma preocupação cada vez maior. Apenas nos primeiros três meses de 2017, pelo menos seis mulheres morreram vítimas de violência. Os principais suspeitos, companheiros ou ex-companheiros.
Renata Rodrigues Aureliano, de 29 anos, voltava de uma festa em que celebrou a chegada de 2017 quando um "banho" de gasolina colocou fim aos seus planos em Campestre (MG). Tuane Pereira Castilho, de 26 anos, foi encontrada pelos filhos morta na manhã do dia 23 de fevereiro, vítima de espancamento em Poços de Caldas (MG). Paola Enae Resende Cunha, de 21 anos, de Aguanil (MG), Sandra Moraes, de 38, de Careaçu (MG), Claudineia Fátima de Moraes, de 32, e Jaqueline Rezende Alves Dutra, de 31, ambas de Lavras (MG), morreram baleadas.
Na cidade de Passos (MG), o corpo de Elaine Aparecida Barros foi encontrado em um canavial na segunda-feira de carnaval (27), três dias após seu desaparecimento. Ela foi amarrada e espancada. O marido teve a prisão preventiva decretada.
Em busca de solução
"Eu não sei dizer se a violência está maior, mas os casos vêm aumentando. A Delegacia da Mulher é uma das mais movimentadas aqui. Todo dia, lidamos com denúncias", diz a delegada Lucila de Gois Vasconcelos, há sete anos à frente da Delegacia da Mulher de Pouso Alegre (MG). "Acredito que estamos lidando com uma junção de fatores: um maior número de pessoas morando na região e o fato das mulheres estarem mais bem informadas e procurando mais ajuda", avalia.
"Eu não sei dizer se a violência está maior, mas os casos vêm aumentando. A Delegacia da Mulher é uma das mais movimentadas aqui. Todo dia, lidamos com denúncias", diz a delegada Lucila de Gois Vasconcelos, há sete anos à frente da Delegacia da Mulher de Pouso Alegre (MG). "Acredito que estamos lidando com uma junção de fatores: um maior número de pessoas morando na região e o fato das mulheres estarem mais bem informadas e procurando mais ajuda", avalia.
Na regional de Pouso Alegre, que abrange 72 cidades, 5.222 casos de violência contra a mulher foram denunciados entre janeiro e dezembro de 2016. Na cidade sede, a taxa de homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes foi de 7,42 no mesmo período, um pouco abaixo de 7,5, taxa a partir da qual o relatório da Secretaria de Segurança Pública considera que a situação é crítica em uma determinada localidade.
"Na maior parte dos casos, a vítima nos procura quando há uma agressão física, mas a violência doméstica é progressiva e cíclica. Isso é um fato. Começa com uma ofensa verbal, vai para uma ameaça, depois progride para um empurrão, para uma lesão um pouco maior e, depois, eventualmente, para um homicídio ou uma tentativa de homicídio", observa.
"E é um ciclo porque, logo após o crime, o autor vai pedir perdão para a vítima, vai se retratar, ele vai falar que nunca mais vai fazer aquilo e que vai mudar o comportamento. Aí tem aquele período de 'lua-de-mel'. Aí ela volta aqui, retira a queixa (nos casos em que a lei permite) , daí eles passam por esse período. Depois vai acontecer outro período crítico e vai acontecer outro crime", aponta a delegada.
Para Lucila, todo um trabalho precisa ser desenvolvido para que esse ciclo de violência seja rompido, tanto por parte da vítima quanto por parte do agressor. A delegada explica que a atenção na delegacia da mulher sempre envolve outros profissionais que estão fora da alçada policial.
"É importante trabalhar essa família, a autoestima da mulher, trabalhar o autor também, conscientizar o autor, fazer um tratamento psicológico, oferecer uma assistência social. Às vezes a vítima não sai de casa porque não tem um trabalho. Então, é preciso procurar um trabalho para a vítima para romper esse ciclo de violência doméstica", afirma a delegada da mulher.
Em Minas Gerais, as delegacias da mulher trabalham em conjunto com os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), que atuam dentro dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e oferecem apoio jurídico e psicológico, além da assistência social às vítimas.
"Muita coisa ainda precisa ser feita, mas hoje contamos com esse suporte. Porque o problema vai além da questão criminal. Até chegar ao crime, outras situações acontecem com aquela família. Os indícios sempre aparecem. O homem é machista, ciumento, possessivo, falta diálogo entre o casal, a mulher tem uma dependência financeira, emocional. Tudo isso dificulta o trabalho de investigação", relata Lucila.
Proteção, apoio e abrigo
Até setembro de 2016, a Delegacia da Mulherem Pouso Alegre contava apenas com uma delegada e uma escrivã. Agora, há três investigadores que trabalham prioritariamente com casos de violência contra a mulher. A cidade ainda conta com um dos 28 Creas existentes no Sul de Minas- um privilégio que muitos municípios não têm. Nos casos que a vítima precisa receber proteção policial, há apenas um abrigo, localizado em Poços de Caldas (MG), para atender a demanda da região.
De acordo com o superintendente de Proteção Social Especial da Secretaria de Estado de Trabalho e Defesa Social (Sedese), Régis Aparecido Andrade Spíndola, a distribuição de unidades do Creas pelo Estado depende de uma demanda específica e eles não estão vinculados necessariamente a denúncias policiais.
"Existe essa parceria com as delegacias, em que se pode encaminhar as vítimas para o Creas, mas o contrário não é uma obrigação. A mulher em situação de vulnerabilidade tem o poder de escolha. Ela recebe atendimento psicossocial e suporte jurídico para que ela tenha a coragem, o empoderamento, de tomar suas decisões, que podem envolver a denúncia policial. Mas, além do Creas, os municípios recebem repasses de verbas para a área social que podem ser utilizados em políticas específicas para esse público", explica.
Conforme dados da Sedese, 492 mulheres com idades entre 18 e 59 anos foram atendidas em unidades do Creas no Sul de Minas em 2016. Em janeiro, 39 mulheres buscaram apoio, apresentando-se como vítimas de violência dentro da família.
Fonte: g1.globo Sul de Minas
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