A REDUÇÃO EM 13 METROS DO NÍVEL DO RESERVATÓRIO DE
PEIXOTOS TEVE INÍCIO HÁ UM ANO, E MESMO DEPOIS DESTE TEMPO E DAS CHUVAS QUE
CAÍRAM NO VERAO, NÍVEL DAS ÁGUAS NÃO SE RECUPEROU E PREJUÍZOS PERSISTEM
Municípios somam prejuízos
VALÉRIA FALEIROS FERNANDES
Da Redação
Folha da Manhã (Passos/MG)
PASSOS - Um ano após Furnas Centrais Elétricas e o Operador Nacional de
Sistema (OMS) anunciar que seria realizada uma redução de aproximadamente 13
metros no nível do reservatório da Usina Mascarenhas de Moraes, os municípios
banhados pela represa conhecida como “Peixotos” falam sobre os prejuízos
sofridos e dificuldades enfrentadas nesse período.
De acordo com informação obtida pela Folha, a decisão de baixar o reservatório
foi mesmo colocada em prática a partir de agosto de 2014. No final do ano
passado, a represa já havia perdido 11 metros do seu nível, apresentando em
várias partes o solo. No último mês, segundo os prefeitos das cidades atingidas,
houve uma ligeira recuperação de cerca de dois metros e meio, porém a situação
na represa ainda é crítica.
O vice-prefeito de Cássia, Donizete Vilela (PP), conta que a situação
dos municípios banhados pelo reservatório ficou muito complicada. Seis cidades
foram atingidas diretamente pelo problema: Delfinópolis, Cássia, Ibiraci,
Claraval, Passos e São João Batista do Glória. “A situação em Cássia é
péssima. A redução no nível afetou vários setores, desde a construção civil, o
turismo, a saúde, até na arrecadação. Tivemos uma queda muito grande de
receita, principalmente no que diz respeito aos royalties da água”.
Donizete é também comerciante, proprietário de uma empresa de produção
de cerâmica. Segundo ele, as obras de construções e empreendimentos na beira da
represa pararam por completo. “Antes vendia muitos tijolos para obras naquela
região, agora as vendas caíram aproximadamente 80%”, contou.
O movimento de turistas, que aquecia o comércio e fazia girar a
economia em Cássia, também foi duramente afetado. “A cidade perdeu demais com
o turismo e piscicultura. Furnas simplesmente tomou a decisão argumentando que
o reservatório de água foi feito para gerar energia. Não tivemos como fazer
nada. Agora só o tempo para recuperar o que foi perdido”, completou Donizete.
Balsas
No caso do prefeito de Delfinópolis, um dos principais municípios
afetados, as dificuldades também foram várias, começando pelo transporte de
balsa que leve que ser todo reformulado, desde ancoradouros até troca de
hélices e peças das máquinas, que passaram a quebrar com maior frequência, já
que o nível da represa ficou muito baixo. “Tive que investir em iluminação nos
portos para ficar mais fácil a movimentação das balsas durante a noite. Várias
vezes tivemos problemas com ela agarrando no solo”, contou.
Pedro Paulo Pinto comenta ainda sobre as perdas nos royalties da água,
que ele considera as mais significativas. Delfinópolis viu seus recursos
hídricos diminuírem cerca de 60%. Até mesmo o ITBI (Imposto Sobre a
Transmissão de Bens Imóveis) sofreu desaceleração por conta da paralisação nas
negociações de ranchos e terrenos na beira da represa.
Conforme o prefeito, hoje é raro algum tipo de negociação de terras naquela
área. Antes da baixa, o cenário era completamente diferente, com grande
aquecimento de empreendimentos no local. “Os reflexos dessa queda no nível do
reservatório foram só negativos. Não ganhamos nada, pelo contrário, só perdemos
e as perdas foram muito grandes”, desabafou.
Pedro Paulo destaca que o único suporte dado por Furnas vem sendo em
relação à manutenção das balsas. “Estamos aguardando ajuda também com a doação
de pedriscos para arrumar a entrada nos portos, porém essa ajuda ainda não
chegou”.
Delfinópolis enfrenta
problemas com dengue
Com a redução no nível do reservatório, o esgoto no município de
Delfinópolis passou a ficar a céu aberto. “No ano passado a Copasa (Companhia
de Saneamento de Minas Gerais) iniciou obra para tratamento do esgoto, porém os
trabalhos foram paralisados.
“Já procuramos de todas as formas fazer a empresa retornar a obra, mas
até agora nada. O prazo é até 2016. Isso também nos preocupa muito porque o
município vem enfrentando problema grave com a dengue, e tudo isso é
consequência da baixa do reservatório", declarou.
Em contato que teve recentemente com Furnas, foi sinalizado ao prefeito
Pedro Paulo que o reservatório vai voltar a subir num futuro próximo cerca de
sete metros. “Estamos com essa esperança, mas não podemos criar grandes
expectativas na população e depois acabar frustrando-a". Como não há uma
programação elaborada por pelos órgãos responsáveis pela geração de energia
elétrica - Furnas e ONS - todos os prefeitos esperam mesmo é por uma mudança
climática que venha trazer um volume mais acentuado de chuvas e recuperação dos
recursos hídricos.
Fonte: Jornal Folha da Manhã (Passos/MG)