‘Allan Kardec’ de Franca, pode perder seus 68 moradores
Sessenta e oito pacientes que vivem - em muitos casos, há décadas - no Hospital Psiquiátrico “Allan Kardec” poderão mudar de endereço após o início de um plano de ação proposto na audiência de conciliação entre Município, Estado, União e entidade ocorrida na última terça-feira. De acordo com o procurador da República Wesley Miranda, ainda não há um prazo para que a desinternação desses moradores aconteça, mas a expectativa, caso não haja intercorrências, é que daqui a dois anos uma rede extra-hospitalar entre em funcionamento em Franca.
“É uma rede muito complexa que envolve vários equipamentos como leitos de hospital, unidades de atendimento e residências terapêuticas (onde viverão os desinternados). Isso tudo demanda tempo, programação e orçamento”, afirmou. “Vamos tentar ajustar essa implementação fora dos autos do processo e, a partir do momento que a gente conseguir estabelecer esse alcance no atendimento, formular um termo de ajustamento e apresentá-lo à Justiça”, completou.
De acordo com a secretária de Saúde do município, Rosane Moscardini, as residências terapêuticas estão sendo estruturadas a fim de que estejam prontas em 8 meses. Já na próxima semana, a expectativa é que um edital deva ser lançado para que entidades civis se candidatem à gestão das mesmas.
“As residências são casas normais, que podem ser alugadas. Existe um financiamento por parte do Estado e da União para que se faça um investimento para mobiliá-las”, afirmou. “Nessas casas poderão ficar até 8 pessoas com um cuidador. Dependendo do grau de dependência do paciente, ele terá um técnico de enfermagem, além do cuidador, que ficará à sua disposição 24 horas.”
Ainda segundo a secretária, o diferencial entre as residências e o Hospital “Allan Kardec” seria a reinserção desses pacientes ao convívio social. “Quando ele está internado, está institucionalizado. Ele fica no hospital usando a mesma roupa que todos, segregado. Quando ele vier para a residência, terá a ‘vidinha’ dele podendo sair, ter o próprio dinheiro, comprar suas próprias coisas e ressocializar.” Sobre possíveis traumas causados pela separação desses pacientes de seu antigo ambiente bem como de seus cuidadores e companheiros, que passaram a ter status familiar em suas vidas, a secretária diz que essas 68 pessoas serão divididas conforme suas afinidades.
Rede extra-hospitalar
A rede extra-hospitalar que está sendo planejada prevê uma reestruturação completa do atendimento que é oferecido atualmente aos pacientes com problemas psiquiátricos em Franca. Atualmente, de acordo com a secretária de Saúde, quando apresentam alguma crise, eles são encaminhados pelas famílias ao Pronto Socorro “Álvaro Azzuz”, estabilizados, e, posteriormente, enviados ao Hospital “Allan Kardec”, que acolhe casos de tratamento e internação.
“A proposta é que esse paciente continue indo até o Pronto Socorro a fim de ser estabilizado por até 72 horas e, depois, se ele precisar continuar internado, seja encaminhado a um Caps 24 horas. Lá, terá leito e o paciente poderá ficar até 30 dias. Depois que ele sair, haverá um acompanhamento por parte do Caps, ou seja, ele passará o dia na unidade e, à noite, se estiver bem, vai para casa.” Ainda segundo Moscardini, além do Caps já existente, um novo será implantado, no antigo consultório do Pronto Socorro Infantil, com atendimento 24 horas.
Wanderley Cintra, presidente do Allan Kardec, é totalmente contrário às modificações propostas
Fonte:gcn.net.